terça-feira, 31 de julho de 2007

Quando a Lógica Falha

E quando o excesso de gentileza, ao invés de ceder, nos engole? Aprendemos em matemática que menos com menos dá mais – porque se digo “não não quero”, significa que eu sim quero. E se digo “sim não quero”, significa que não quero, portanto mais com menos dá menos e menos com mais dá menos. No entanto, já pensa o leitor astuto que sabe que mais com mais sempre dará mais – pois “sim sim quero” é confirmar a afirmação já afirmada: é portanto afirmar três vezes (uma do sim, outra do sim, outra do quero). Engana-se.
Estava andando na rua. Pessoas transitavam abstratas na estreites calçada. Eis que passa um homem gordo. Nada contra gordos. Inclusive, já diz a piada, que se todos fossem gordos as pessoas estariam mais próximas. Estava suado. Seu pisar marchado endoidecia a sujeira do chão. Cruzava meu caminho. Não cabíamos os dois na mesma rua.
Nesses casos dinâmicos, não há muito pensamento: ou você vira a direita ou a esquerda, e transpassa-o. Limpo. Talvez com algum suor absorvido. Mas vivo. O que já vale alguma coisa.
Não é um ato de nojo, mas pura generosidade. Entenda. Não sou ridículo, ao contrário, sou sempre do tipo que murcha os ombros para os outros passarem, pois há aqueles cujo barulho do piso, se traduzido, é o mesmo que “Sai da minha frente! Xispa!”
Ou seja: sou gentil. Decido pela direita.
Pior do que ser gentil é ver que o sujeito – a quem eu já estava ficando secretamente apaixonado – também o é. E titubeou para o mesmo lado.
E então começa uma pequena disputa de altruísmo. Um quer ceder o lugar ao outro, mas vamos sempre para os mesmo lugares. Ficamos exilados na própria intenção. Cárceres da solidariedade mútua. Isso dura alguns segundos – mas é o suficiente para uma confusão mental. Afinal, mais com mais deu menos. A anti-lógica revitaliza a esperança de que não somos binômios quadrados perfeitos. Somos errantes de boa vontade. Pobre de nós, que se construíssemos calçadas maiores libertaríamos o caminho!