sábado, 1 de setembro de 2007

Lugares

Um dia deixarei de frescura e seguirei o caminho até a estrela mais próxima. Guiado pela minha intuição e levando apenas minha predisposição. Chegando lá, repousarei um pouco e voltarei ao nosso planeta. E não contarei a ninguém.
Voltarei a vida normal; isto é, voltarei às aparências: e é fácil viver só de aparências: então vou deixar meu coração naquela estrela e seguir vivendo.
E de vez em quando, quando der saudades de mim, retornarei ao caminho que adivinhara e visitarei a estrela. Só para respirar um pouquinho. Farei isso todos os dias que me forem necessários. E lá ficarei vagando em encontro absoluto. Criarei algumas fórmulas, inventarei filosofias, redescobrirei a física quântica, e ainda trabalharia em projetos pessoais. Definiria todos os sentimentos humanos e intuiria os sobre-humanos também. E seria tão sábio e calmo que frutificaria todo apenas pela constância. Ai de quem me espiasse pois não veria nada. Lá eu cresceria como as árvores. Não seria julgado e nem abandonado: não haveria separação entre eu e nada, e então eu amaria como nunca se amou: sem gesto e só em silêncio.
E conforme for voltando, estarei mais e mais íntegro. E as pessoas e a crueldade – tão terrenas – não irão me abalar tanto. E estarei imune aos males pequenos: não porque tenho anticorpos, mas porque serei confidente íntimo de cada vírus. E a distância entre a estrela e a Terra irá cedendo naturalmente. Como o sorriso que se afrouxa nos lábios: traz pra perto. E poderei ir mil vezes. Até que seja uma coisa só. Babo só de pensar. Mas não contarei pra ninguém. Como a fórmula de um perfume invejado. Será meu segredo.