sexta-feira, 23 de novembro de 2007

À Emergência de Um Grito Qualquer

Estou hoje à emergência de um grito qualquer. Que não fosse minha inconsistência e minha incompetência em ser um grito, talvez eu fosse mais meu e menos do vento. Mas meus olhos insistem no sufoco de não poder voltar para dentro, de modo que a minha vivência se dá ao contrario da minha busca: vou de fora para dentro, com todo o concreto arrumado e todo perfume delgado denunciando o que é externo e incapaz de me pertencer.
Sei, entretanto, que toda essa dor é fruto de um apego mesquinho e rudimentar: moldar o abstrato com as mãos: senti-lo e transforma-lo ao bel-prazer. Besta que sou, na unilateralidade atolada, que preciso antes desfazer-me do egóico para então ser livre e então terei olhos dentro apenas porque dentro será uma referencia apenas sentida. Sou todo emoção, mas escapo antes de sê-lo, pois uma vez assumido firmo um compromisso com o sentimento sentido e essa responsabilidade seria a morte de todas as minhas pretensões. Estou a emergência de um grito qualquer, preso que estou, tentando derrubar paredes a gritos e virar os olhos para ver se atravesso meu muro e descubro que por trás dele há o melhor de mim que respinga cego em ainda não ser. Mas sei que minha consciência ainda brincará de surpresas e sobressaltos. Pensar que posso ser surpreendido por mim me mantém acordado todos os dias. E rezo para o sol. Que não sou eu. Mas me acusa quem sou, espécie única.